Conheça a terapia dialética comportamental
- Psicóloga Laís Fiocco
- 13 de nov. de 2023
- 4 min de leitura
A terapia dialética comportamental (DBT) foi desenvolvida pela Marsha M. Linehan, psicóloga da Universidade de Washington para trabalhar com mulheres portadoras do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).
TPB é um transtorno onde a pessoa sofre intensa desregulação emocional, dificuldade em relacionamentos íntimos e pode apresentar comportamentos autodestrutivos, às vezes, suicida.
Marsha Linehan é portadora de TPB com diversas tentativas de suicídio e internações psiquiátricas. Em uma das internações, sendo a única paciente internada e desenganada pelos médicos na capela, uma freira fez uma pergunta: “tem algo que eu posso te ajudar?” e ela respondeu “não, só eu posso fazer por mim” e foi assim que ela entendeu que dependia dela para sair dali, fez um pedido que se ela conseguisse sair dali ela ajudaria pessoas com a mesma condição que ela a melhorar.
Quando desenvolveu a DBT buscou fazer um tratamento mais abrangente, que trabalhasse diversas áreas da vida do paciente e que ele tivesse suporte necessário para os momentos de crise. Com isso, nasce os quatro modos da terapia.
OS QUATRO MODOS DA TERAPIA EM DBT
Terapia Individual
Na terapia individual, DBT é focada em compreender, explorar e direcionar os comportamentos que o paciente deseja mudar. Isto é feito mantendo o paciente motivado para concluir o tratamento e encorajando-o a aplicar novas habilidades. Tem a duração média de 50/60 minutos.
Coaching por telefone
As habilidades DBT precisam ser colocadas em prática nos momentos necessários como desejo de machucar ou usar substâncias, quanto maior a intensidade da emoção maior a probabilidade de a pessoa reagir com seu modo antigo. A duração é curta, não passa de 15 minutos, é uma forma de oferecer ao paciente suporte e ideia para lidar com a situação atual.
Consultoria para o terapeuta
É quando o terapeuta se reúne com outros terapeutas DBT visando auxiliar a enfrentar questões difíceis e complexas relacionadas à terapia e lhe dão novas ideias quando ficam travados. É um suporte para o terapeuta manter motivado e prevenir o esgotamento, pois trabalhar todos os dias com a demanda de suicídio o terapeuta acaba sentindo muito o desespero do paciente
Treinamento de Habilidades
A desregulação emocional tem sido associada a uma variedade de problemas de saúde mental decorrentes de padrões de instabilidade emocional, no controle dos impulsos, nos relacionamentos interpessoais e na autoimagem.
A meta geral do treinamento é ajudar as pessoas a modificar padrões comportamentais, emocionais, interpessoais e de pensamento associados com os problemas da vida.
O foco é aprender novas habilidades em um ambiente parecido com uma sala de aula. As habilidades são ensinadas por meio de exercícios práticos, generalizados a outros aspectos da vida pessoal dos pacientes e com tarefas de casa.
Ensina a regular as próprias emoções e melhorar a capacidade de resolver problemas no dia a dia.
Habilidades de mindfulness
Essa habilidade é utilizada com base na aceitação e compromisso, onde conscientemente a pessoa foca a mente agora, sem julgamento.
Através do mindfulness é possível confrontar comportamentos e atividades automáticos e habituais
Habilidades de efetividade interpessoal
Essa habilidade ensina estratégias para que a pessoa aprenda a dizer "não", saber como pedir o que precisa e administrar seus conflitos pessoais.
Habilidades de regulação emocional
Envolve montar estratégias de enfrentamento para lidar ou confrontar as emoções (no caso, indesejadas).
Ensinando quais são as emoções, ações e tendência das ações para conseguir entender sobre a desregulação emocional que afeta e a pessoa e o descontrole de comportamento.
Habilidades de tolerância ao mal-estar
O mal-estar faz parte da vida, além de ser algo que não pode ser evitado ou simplesmente excluído, em alguns momentos irá acontecer. Assim, quando a pessoa consegue lidar com esse fato que é imutável, poderá, ao menos a curto prazo, evitar desconfortos que interferem nas relações interpessoais.
Essa habilidade auxilia para que a pessoa não aja de maneira impulsiva, conseguindo superar/sobreviver momentos de crise
Veja o vídeo a seguir
Teoria biossocial
De acordo com o entendimento de Linehan, a desregulação emocional generalizada se origina da combinação de vulnerabilidade biológica e ambientes sociais invalidantes.
Com isso, surgiu a teoria Biossocial que é um modelo transacional elaborado para explicar possíveis origens da desregulação emocional. A hipótese é que, os indivíduos nascem com temperamentos e necessidades distintas. A interação do ambiente pode potencializar ou reduzir possíveis disfuncionalidades.
Conheça a seguir as cinco áreas de desregulação e a seguir o ambiente invalidante
Tipos de desregulação
Desregulação emocional
É a incapacidade de reagir com flexibilidade e de manejar os seus próprios sentimentos, com respostas emocionais reativas. São episódios breves, de poucas horas, mas opressores.
Desregulação interpessoal
É caracterizada pelo medo, real ou imaginário, de que a pessoa com TPB será abandonada por aqueles que lhe são próximos. A pessoa fica desesperada para evitar que o abandono ocorra e se comporta de forma disfuncional para impedir que isso aconteça.
Desregulação do Eu
É caracterizada por um senso de identidade instável e pela experiência de se sentir vazio por dentro. Pessoas com TPB podem ter muita dificuldade em se definir em termos de quem são, quais são os seus valores e seus objetivos de longo prazo e seu rumo de vida. Outro aspecto importante é a experiência de vazio, que é uma sensação de desconexão, solidão e sensação de incompreensão.
Desregulação cognitiva
É caracterizada por episódios breves de pensamento paranoico, em particular em períodos de estresse. Pessoas com TPB podem experimentar a dissociação, sendo o sentimento ou pensamento de que elas não são reais ou de que o resto do mundo não é real.
Desregulação comportamental
É caracterizada por comportamentos extremos - às vezes impulsivos, e outros, perigosos. Eles são usados como forma para lidar com emoções intensas e insuportáveis e podem incluir comportamentos autolesivos, como cortes e tentativas de suicídio.
Ambiente Invalidante
As respostas dos cuidadores validam o que é eficaz e apropriado e faz sentido em nossas respostas e invalidam o que não é eficaz, inadequado e não faz sentido. As respostas de validação dos outros nos ensinam a usar a emoção para entender o que está acontecendo dentro e fora de nós e leem cada momento do nosso estado e das necessidades em relação ao ambiente. Em um ambiente ideal e saudável, os cuidadores normalmente proporcionarão um alívio contingente e apropriado para emoções fortes.
Ambientes invalidantes são ambientes familiares que respondem à comunicação privada, rotulando como inválida, injustificada, banal, distorcida, exagerada, entre outros. Esses ambientes não ensinam a criança a rotular suas próprias experiências e criam dificuldades para reconhecer efetivamente suas emoções e problemas, já que são considerados inválidos.
Pressupostos da DBT para Clientes
Os clientes estão fazendo o melhor que podem
Eles querem melhorar
Eles não podem falhar na DBT.
A vida de indivíduos suicidas é insuportável da forma como vivem.
Os clientes devem aprender novos comportamentos em todos os contextos relevantes.
Os clientes podem não ter causado todos os seus problemas, mas precisam resolvê-los
Os clientes precisam fazer melhor, esforçar-se mais e/ou ficar mais motivados para mudar.
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